A Proclamação da
República Brasileira foi um levante político-militar ocorrido em 15 de novembro de 1889 que instaurou a forma republicana
federativapresidencialista de governo no Brasil, derrubando a monarquia constitucionalparlamentarista do Império
do Brasil e, por conseguinte, pondo fim à
soberania doImperador Dom Pedro
II. Foi, então, proclamada a República dos Estados Unidos do Brasil.
A proclamação ocorreu na Praça da
Aclamação (atual Praça da República), na cidade do Rio de Janeiro, então capital do Império do Brasil,
quando um grupo de militares do exército brasileiro, liderados pelo marechal Deodoro
da Fonseca, destituiu o imperador e assumiu o poder no país.
Foi instituído, naquele mesmo dia 15,
um governo provisório republicano. Faziam
parte, desse governo, organizado na noite de 15 de novembro de 1889, o marechal
Deodoro da Fonseca como presidente da república e chefe do Governo Provisório;
o marechal Floriano Peixoto como vice-presidente; como ministros, Benjamin Constant Botelho de Magalhães, Quintino
Bocaiuva, Rui Barbosa, Campos Sales,Aristides Lobo, Demétrio
Ribeiro e o almirante Eduardo
Wandenkolk, todos membros regulares da maçonaria brasileira.
A Situação Política
do Brasil em 1889
O governo imperial, através do 37º e
último gabinete ministerial, empossado em 7 de junho de 1889, sob o comando do presidente do Conselho de Ministros do Império, Afonso Celso de Assis Figueiredo, o Visconde de Ouro Preto,
do Partido Liberal,
percebendo a difícil situação política em que se encontrava, apresentou, em uma
última e desesperada tentativa de salvar o império, à
Câmara-Geral, atual câmara dos deputados, um programa de reformas
políticas do qual constavam, entre outras, as medidas seguintes: maior
autonomia administrativa para as províncias, liberdade de voto, liberdade de
ensino, redução das prerrogativas do Conselho
de Estado e mandatos nãovitalícios para o Senado Federal. As
propostas do Visconde de Ouro Preto visavam a preservar o regime monárquico no
país, mas foram vetadas pela maioria dos deputados de tendência conservadora
que controlava a Câmara Geral. No dia 15 de novembro de 1889, a república era
proclamada.
A Perda de Prestígio
da Monarquia Brasileira
Muitos foram os fatores que levaram o Império a perder o apoio de suas bases econômicas,militares e sociais. Da parte
dos grupos conservadores pelos sérios atritos com a Igreja Católica (na "Questão
Religiosa"); pela perda do apoio político dos grandes
fazendeiros em virtude da abolição da escravatura, ocorrida em 1888, sem a
indenização dos proprietários de escravos.
Da parte dos grupos progressistas,
havia a crítica que a monarquia mantivera, até muito tarde, a escravidão no
país. Os progressistas criticavam, também, a ausência de iniciativas com vistas
ao desenvolvimento do país fosse econômico, político ou social, a manutenção
de um regime político de castas e o voto censitário, isto é,
com base na renda anual das pessoas, a ausência de um sistema de ensino universal, os altos índices de analfabetismoe de miséria e o afastamento político do Brasil em relação a todos demais países do
continente, que eram republicanos.
Assim, ao mesmo tempo em que a
legitimidade imperial decaía, a proposta republicana - percebida como
significando o progresso social - ganhava espaço. Entretanto, é importante
notar que a legitimidade do Imperador era distinta da do regime imperial:
Enquanto, por um lado, a população, de modo geral, respeitava e gostava de dom
Pedro II, por outro lado, tinha cada vez em menor conta o próprio império.
Nesse sentido, era voz corrente, na época, que não haveria um terceiro reinado,
ou seja, a monarquia não continuaria a existir após o falecimento de dom Pedro
II, seja devido à falta de legitimidade do próprio regime monárquico, seja
devido ao repúdio público ao príncipe consorte, marido da princesa
Isabel, o francês Conde D'Eu.
Embora a frase de Aristides
Lobo (jornalista e líder republicano
paulista, depois feito ministro do governo provisório), "O povo assistiu
bestializado" à proclamação da república, tenha entrado para a história,
pesquisas históricas, mais recentes, têm dado outra versão à aceitação da
república entre o povo brasileiro. É o caso da tese defendida por Maria Tereza
Chaves de Mello (A República Consentida, Editora da FGV, EDUR, 2007),
que indica que a república, antes e depois da proclamação, era vista
popularmente como um regime político que traria o desenvolvimento, em sentido
amplo, para o país.
Antecedentes da
Proclamação da República
A partir da década
de 1870, como consequência da Guerra
do Paraguai (também chamada de Guerra da Tríplice Aliança) (1864-1870), foi tomando corpo a ideia de alguns
setores da elite de alterar o regime político vigente. Fatores que influenciaram
esse movimento:
§ O imperador dom Pedro
II não tinha filhos, apenas filhas. O trono seria ocupado, após a sua morte,
por sua filha mais velha, a princesa Isabel,
casada com um francês, Gastão de Orléans, Conde d'Eu, o que gerava o receio
em parte da população de que o país fosse governado por um estrangeiro.
§ O fato de os negros
terem ajudado o exército na Guerra do Paraguai e, quando retornaram ao país,
permaneceram como escravos, ou seja, não ganharam a alforria de seus donos.
A Crise Econômica
A crise econômica agravou-se em função
das elevadas despesas financeiras geradas pela Guerra da Tríplice Aliança,
cobertas por capitais externos. Os empréstimos brasileiros elevaram-se de 3 000
000 de libras esterlinas em 1871 para quase 20 000 000 em 1889, o que causou
uma inflação da ordem de 1,75 por cento ao ano.
A Questão
Abolicionista
A questão abolicionista impunha-se
desde a abolição do tráfico negreiro em 1850, encontrando viva resistência
entre as elites agrárias tradicionais do país. Diante das medidas adotadas pelo
Império para a gradual extinção do regime escravista, devido a repercussão da
experiência mal sucedida nos Estados Unidos de libertação geral dos escravos ter levado aquele país à guerra civil, essas
elites reivindicavam do Estado indenizações proporcionais ao preço total que
haviam pago pelos escravos a serem libertados por lei. Estas indenizações
seriam pagas com empréstimo externo.
Com a decretação da Lei Áurea (1888), e ao deixar de indenizar esses grandes proprietários rurais, o
império perdeu o seu último pilar de sustentação. Chamados de
"republicanos de última hora" ou Republicanos do 13 de Maio, os
ex-proprietários de escravos aderiram à causa republicana, não por causa de um
sentimento, mas como uma "vingança" contra a monarquia.
Na visão dos progressistas, o Império
do Brasil mostrou-se bastante lento na solução da chamada "Questão
Servil", o que, sem dúvida, minou sua legitimidade ao longo dos anos.
Mesmo a adesão dos ex-proprietários de escravos, que não foram indenizados, à
causa republicana, evidencia o quanto o regime imperial estava atrelado à
escravatura.
Assim, logo após a princesa Isabel
assinar a Lei Áurea, João Maurício Wanderley, Barão de Cotegipe, o único
senador do império que votou contra o projeto de abolição da escravatura,
profetizou:
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"A senhora acabou de redimir uma raça e perder um trono!"
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— Barão de Cotegipe
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A Questão Religiosa
Desde o período
colonial, a Igreja Católica, enquanto instituição, encontrava-se
submetida ao estado. Isso se manteve após a independência e significava, entre
outras coisas, que nenhuma ordem do Papa poderia vigorar no Brasil sem que fosse previamente aprovada pelo imperador (Beneplácito
Régio). Ocorre que, em 1872, Vital Maria Gonçalves de Oliveira e Antônio de Macedo Costa, bispos de Olinda e Belém
do Pará respectivamente, resolveram seguir, por
conta própria, as ordens do Papa Pio IX, que
excluíam da igreja os maçons, e como D.
Pedro II e membros de alta influência no Brasil
Monárquico eram maçons, a Bula não foi ratificada.
Os Bispos se recusaram a obedecer ao
imperador, sendo presos. Em 1875, graças à intervenção do maçom Duque de Caxias, os bispos receberam o perdão
imperial e foram colocados em liberdade. Contudo, no episódio, a imagem do
império desgastou-se junto à Igreja Católica. E este foi um fator agravante na
Crise da Monarquia, pois o apoio da Igreja Católica era essencial.
A Questão Militar
Os militares do Exército
Brasileiro estavam descontentes com a proibição,
imposta pela monarquia, pela qual os seus oficiais não podiam manifestar-se na
imprensa sem uma prévia autorização do Ministro
da Guerra. Os militares não possuíam uma autonomia de tomada de
decisão sobre a defesa do território, estando sujeitos às ordens do imperador e
do Gabinete de Ministros, formado por civis, que se sobrepunham às ordens dos
generais. Assim, no império, a maioria dos ministros da guerra eram civis.
Além disso, frequentemente os militares
do Exército Brasileiro sentiam-se desprestigiados e desrespeitados. Por um lado,
os dirigentes do império eram civis, cuja seleção era extremamente elitista e
cuja formação era bacharelesca, mas que resultava em postos altamente
remunerados e valorizados; por outro lado, os militares tinham uma seleção mais
democrática e uma formação mais técnica, mas que não resultavam nem em
valorização profissional nem em reconhecimento político, social ou econômico.
As promoções na carreira militar eram difíceis de serem obtidas e eram baseadas
em critérios personalistas em vez de promoções por mérito e antiguidade.
A Guerra
do Paraguai, além de difundir os ideais republicanos, evidenciou aos
militares essa desvalorização da carreira profissional, que se manteve e mesmo
acentuou-se após o fim da guerra. O resultado foi a percepção, da parte dos
militares, de que se sacrificavam por um regime que pouco os consideravam e que
dava maior atenção à Marinha do Brasil.
A Atuação dos
Positivistas
Durante a Guerra
do Paraguai, o contato dos militares brasileiros com a realidade dos
seus vizinhos sul-americanos levou-os a refletir sobre a relação existente
entre regimes políticos e problemas sociais. A partir disso, começou a
desenvolver-se, tanto entre os militares de carreira quanto entre os civis
convocados para lutar no conflito, um interesse maior pelo ideal republicano e
pelo desenvolvimento econômico e social brasileiro.
Dessa forma, não foi casual que a
propaganda republicana tenha tido, por marco inicial, a publicação do manifesto Republicano em 1870 (ano em que
terminou a Guerra do Paraguai), seguido pela Convenção
de Itu em 1873 e pelo surgimento dos clubes republicanos,
que se multiplicaram, a partir de então, pelos principais centros no país.
Além disso, vários grupos foram
fortemente influenciados pela maçonaria (Deodoro
da Fonseca era maçom, assim como todo seu
ministério) e pelo positivismo de Auguste Comte,
especialmente, após 1881, quando surgiu a igreja Positivista do Brasil. Seus diretores, Miguel Lemos e Raimundo Teixeira Mendes,
iniciaram uma forte campanha abolicionista e republicana.
A propaganda republicana era realizada
pelos que, depois, foram chamados de "republicanos históricos" (em
oposição àqueles que se tornaram republicanos apenas após o 15 de novembro,
chamados de "republicanos de 16 de novembro").
As ideias de muitos dos republicanos
eram veiculadas pelo periódico A República. Segundo alguns pesquisadores, os
republicanos dividiam-se em duas correntes principais:
§ Os evolucionistas,
que admitiam que a proclamação da república era inevitável, não justificando
uma luta armada;
§ Os revolucionistas,
que defendiam a possibilidade de pegar em armas para conquistá-la, com
mobilização popular e com reformas sociais e econômicas.
Embora houvesse diferenças entre cada
um desses grupos no tocante às estratégias políticas para a implementação da
república e também quanto ao conteúdo substantivo do regime a instituir, a
ideia geral, comum aos dois grupos, era a de que a república deveria ser um
regime progressista, contraposto à exausta monarquia. Dessa forma, a proposta
do novo regime revestia-se de um caráter social revolucionário e não apenas do
de uma mera troca dos governantes.
O Golpe Militar de 15
de Novembro de 1889
No Rio de Janeiro, os republicanos insistiram que o Marechal Deodoro da Fonseca, um monarquista,
chefiasse o movimento revolucionário que substituiria a monarquia pela
república. Depois de muita insistência dos revolucionários, Deodoro da Fonseca
concordou em liderar o movimento militar.
O golpe militar, que
estava previsto para 20 de novembro de 1889, teve de ser antecipado. No dia 14, os
conspiradores divulgaram o boato de que o governo havia mandado prender Benjamin Constant Botelho de Magalhães e Deodoro
da Fonseca. Posteriormente confirmou-se que era mesmo boato. Assim,
os revolucionários anteciparam o golpe de estado, e, na madrugada do dia 15
de novembro, Deodoro iniciou o movimento de tropas do exército que
pôs fim ao regime monárquico no Brasil.
Os conspiradores dirigiram-se à
residência do marechal Deodoro, que estava doente com dispneia,[1] e convencem-no a liderar o movimento.
Com esse pretexto de que Deodoro seria
preso, ao amanhecer do dia 15 de Novembro, o marechal Deodoro da Fonseca, saiu
de sua residência, atravessou o Campo de Santana, e,
do outro lado do parque, conclamou os soldados do batalhão ali aquartelado,
onde hoje se localiza o Palácio Duque de Caxias, a se rebelarem contra o
governo. Oferecem um cavalo ao marechal, que nele montou, e, segundo
testemunhos, tirou o chapéu e proclamou "Viva a República!". Depois
apeou, atravessou novamente o parque e voltou para a sua residência. A
manifestação prosseguiu com um desfile de tropas pela Rua Direita, atual rua 1º
de Março, até o Paço Imperial.
Os revoltosos ocuparam o
quartel-general do Rio de Janeiro e depois o Ministério
da Guerra. Depuseram o Gabinete ministerial e prenderam seu
presidente, Afonso Celso de Assis Figueiredo, Visconde de Ouro Preto.
No Paço Imperial, o presidente do
gabinete (primeiro-ministro), Visconde de Ouro Preto, havia tentando resistir
pedindo ao comandante do destacamento local e responsável pela segurança do
Paço Imperial, general Floriano Peixoto,
que enfrentasse os amotinados, explicando ao general Floriano Peixoto que
havia, no local, tropas legalistas em número suficiente para derrotar os
revoltosos. O Visconde de Ouro Preto lembrou a Floriano Peixoto que este havia
enfrentado tropas bem mais numerosas na Guerra
do Paraguai. Porém, o general Floriano Peixoto recusou-se a obedecer
às ordens dadas pelo Visconde de Ouro Preto e assim justificou sua
insubordinação, respondendo ao Visconde de Ouro Preto:
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Sim, mas lá (no Paraguai) tínhamos em frente inimigos e aqui somos
todos brasileiros!
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Em seguida, aderindo ao movimento
republicano, Floriano Peixoto deu voz de prisão ao chefe de governo Visconde de
Ouro Preto.
O único ferido no episódio da
proclamação da república foi o Barão
de Ladário que resistiu à ordem de prisão dada
pelos amotinados e levou um tiro. Consta que Deodoro não dirigiu crítica ao Imperador D. Pedro II e que vacilava em suas palavras. Relatos dizem que foi uma estratégia
para evitar um derramamento de sangue. Sabia-se que Deodoro da Fonseca estava
com o tenente-coronel Benjamin Constant ao seu lado e que havia alguns líderes republicanos civis naquele
momento.
Na tarde do mesmo dia 15 de novembro,
na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, foi
solenemente proclamada a República.
À noite, na Câmara Municipal do Município
Neutro, o Rio de Janeiro, José
do Patrocínio redigiu a proclamação oficial da
República dos Estados Unidos do Brasil, aprovada sem votação. O texto foi para
as gráficas de jornais que apoiavam a causa, e, só no dia seguinte,16 de novembro, foi
anunciado ao povo a mudança do regime político do Brasil.
Dom Pedro II, que estava em Petrópolis, retornou
ao Rio de Janeiro. Pensando que o objetivo dos revolucionários era apenas
substituir o Gabinete de Ouro Preto, o Imperador D. Pedro II tentou ainda
organizar outro gabinete ministerial, sob a presidência do conselheiroJosé
Antônio Saraiva. O imperador, em Petrópolis, foi informado e decidiu
descer para a Corte. Ao saber do golpe de estado, o Imperador reconheceu a
queda do Gabinete de Ouro Preto e procurou anunciar um novo nome para
substituir o Visconde de Ouro Preto. No entanto, como nada fora dito sobre
República até então, os republicanos mais exaltados, tendo Benjamin Constant à
frente, espalharam o boato de que o Imperador escolheria Gaspar Silveira Martins, inimigo político de Deodoro
da Fonseca desde os tempos do Rio Grande do Sul,
para ser o novo chefe de governo. Com este engodo, Deodoro da Fonseca foi
convencido a aderir à causa republicana. O Imperador foi informado disso e,
desiludido, decidiu não oferecer resistência.
No dia seguinte, o major Frederico Sólon Sampaio Ribeiro entregou a D. Pedro II uma comunicação, cientificando-o da proclamação
da república e ordenando sua partida para a Europa, a fim de evitar conturbações
políticas. A família imperial brasileira exilou-se na Europa, só lhes sendo
permitida a sua volta ao Brasil na década de 1920.
As diferentes visões
sobre Proclamação da República
É possível considerar a legitimidade ou
não da república no Brasil por diferentes ângulos.
Do ponto de vista do Código Criminal do
Império do Brasil, sancionado em 16 de dezembro de 1830, o crime cometido pelos
republicanos foi:
"Artigo 87: Tentar diretamente, e
por fatos, destronizar o imperador; privá-lo em todo, ou em parte da sua
autoridade constitucional; ou alterar a ordem legítima da sucessão. Penas de
prisão com trabalho por cinco a quinze anos. Se o crime se consumar: Penas de
prisão perpétua com trabalho no grau máximo; prisão com trabalho por vinte anos
no médio; e por dez anos no mínimo."
O Visconde de Ouro Preto, deposto em 15 de novembro,
entendia que a proclamação da república fora um erro e que o Segundo
Reinado tinha sido bom, e, assim se expressou
em seu livro "Advento da Ditadura Militar no Brasil":
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O Império não foi a ruína. Foi a conservação e o progresso. Durante
meio século, manteve íntegro, tranquilo e unido território colossal. O
império converteu um país atrasado e pouco populoso em grande e forte
nacionalidade, primeira potência sul-americana, considerada e respeitada em
todo o mundo civilizado. Aos esforços do Império, principalmente, devem três
povos vizinhos deveram o desaparecimento do despotismo mais cruel e
aviltante. O Império aboliu de fato a pena de morte,
extinguiu a escravidão, deu ao Brasil glórias imorredouras, paz interna,
ordem, segurança e, mas que tudo, liberdade individual como não houve jamais
em país algum. Quais as faltas ou crimes de dom Pedro II, que em quase
cinquenta anos de reinado nunca perseguiu ninguém, nunca se lembrou de uma
ingratidão, nunca vingou uma injúria, pronto sempre a perdoar, esquecer e
beneficiar? Quais os erros praticados que o tornou merecedor da deposição e
exílio quando, velho e enfermo, mais devia contar com o respeito e a
veneração de seus concidadãos? A república brasileira, como foi proclamada, é
uma obra de iniquidade. A república se levantou sobre os broqueis da
soldadesca amotinada, vem de uma origem criminosa, realizou-se por meio de um
atentado sem precedentes na história e terá uma existência efêmera!
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—Visconde de Ouro Preto
|
O movimento de 15 de Novembro de 1889
não foi o primeiro a buscar a república, embora tenha sido o único efetivamente
bem-sucedido, e, segundo algumas versões, teria contado com apoio tanto das
elites nacionais e regionais quanto da população de um modo geral:
§ Em 1788-1789, a Inconfidência Mineira e Tiradentes não buscavam apenas a independência, mas também, a proclamação de uma
república na Capitania das Minas Gerais, seguida de uma série de reformas
políticas, econômicas e sociais;
§ Em 1824, diversos
estados do Nordeste criaram um movimento independentista, dentre elas a Confederação do Equador, igualmente republicana;
§ Em 1839, na esteira
da Revolução Farroupilha, proclamaram-se a República Rio-grandense e a República
Juliana, respectivamente no Rio Grande do Sul e em Santa Catarina.
Embora se argumente que não houve
participação popular no movimento que terminou com o regime monárquico e
implantou a república, o fato é que também não houve manifestações populares de
apoio à monarquia, ao imperador ou de repúdio ao novo regime.
Alguns pesquisadores[quem?] argumentam que, caso
a monarquia fosse popular, haveria movimentos contrários à república em
seguida, além da Guerra de Canudos.
Entretanto, segundo outros pesquisadores[quem?], o que teria ocorrido foi uma
crescente conscientização a respeito do novo regime e sua aprovação pelos mais
diferentes setores da sociedade brasileira. Versão oposta é dada pela
pesquisadora, Maria de Lourdes Mônaco Janoti, no livro Os Subversivos da
República, no qual relata o medo que tiveram os republicanos, nas primeiras
décadas da república, em relação a uma possível restauração da monarquia no
Brasil. Maria Janoti mostra também, em seu livro, a repressão forte, por parte
dos republicanos, a toda tentativa de se organizar grupos políticos monárquicos
naquela época.
Neste sentido, um caso notável de
resistência à república foi o do líder abolicionista José
do Patrocínio, que, entre a abolição da escravatura e a proclamação
da república, manteve-se fiel à monarquia, não por uma compreensão das
necessidades sociais e políticas do país, mas, romanticamente, apenas devido a
uma dívida de gratidão com a Princesa Isabel.
Aliás, nesse período de aproximadamente dezoito meses, José do Patrocínio
constituiu a chamada "Guarda Negra", que eram negros alforriados
organizados para causar confusões e desordem em comícios republicanos, além de
espancar os participantes de tais comícios.
Em relação à ausência de participação
popular no movimento de 15 de novembro, um documento que teve grande
repercussão foi o artigo de Aristides Lobo, que
fora testemunha ocular da proclamação da República, no Diário
Popular de São Paulo, em 18 de novembro, no
qual dizia:
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Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser assim. O
fato foi deles, deles só porque a colaboração do elemento civil foi quase
nula. O povo assistiu àquilo tudo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer
o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada!
|
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—Aristides Lobo
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Na reunião na casa de Deodoro, na noite
de 15 de novembro de 1889, foi decidido que se faria um referendo popular, para
que o povo brasileiro aprovasse ou não, por meio do voto, a república. Porém
esse plebiscito só ocorreu 104 anos depois, determinado pelo artigo segundo do Ato das
Disposições Constitucionais Transitórias da Constituição
de 1988.
Segundo historiadores a aristocracia
cafeeira do oeste paulista e os militares foram os principais articuladores da
queda da monarquia, mas sem uma aliança formal.
A Proclamação da
República e a Manutenção do Brasil como País Unido
Com a proclamação da República,
"segundo todas as probabilidades", acabaria também o Brasil, pensava,
no fim do século XIX, o escritor português Eça
de Queirós. "Daqui a pouco" - acrescentava, numa das suas
cartas de Fradique Mendes, publicadas depois de sua morte sob o título de
"Cartas Inéditas de Fradique Mendes", e transcritas por Gilberto
Freyre em sua obra "Ordem e Progresso":
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O que foi o Império estará fracionado em Repúblicas independentes de
maior ou menor importância. Impelem a esse resultado a divisão histórica das
províncias, as rivalidades que entre elas existem, a diversidade do clima, do
caráter e dos interesses, e a força das ambições locais. [...] Por outro
lado, há absoluta impossibilidade de que São Paulo, a Bahia, o Pará queiram
ficar sob a autoridade do general fulano ou do bacharel sicrano, presidente,
com uma corte presidencial no Rio de Janeiro [...] Os Deodoros da Fonseca
vão-se reproduzir por todas as províncias. [...] Cada Estado, abandonado a si
desenvolverá uma história própria, sob uma bandeira própria, segundo o seu
clima, a especialidade da sua zona agrícola, os seus interesses, os seus
homens, a sua educação e a sua imigração. Uns prosperarão, outros
deperecerão. Haverá talvez Chiles ricos e haverá certamente Nicaráguas
grotescas. A América do Sul ficará toda coberta com os cacos de um grande
Império.
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![]() |
Profecia que de modo algum se realizou. E não se realizou por lhe ter
faltado quase de todo consistência sociológica; ou ter se baseado apenas numa
estreira parassociologia, quando muito, política; e esta quase inteiramente
lógica. Lógica e de gabinete: nem sequer intuitiva no seu arrojo profético
[...] O 'coração íntimo' dos brasileiros da época que se seguiu à proclamação
da República, se examinado de perto [...] haveria de mostrar-lhe que existia
entre a gente do Brasil, do Norte ao Sul do país, uma unidade nacional já tão
forte, quanto às crenças, aos costumes, aos sentimentos, aos jogos, aos
brinquedos dessa mesma gente, quase toda ela de formação patriarcal, católica
e ibérica nas predominâncias dos seus característicos, que não seria com a
simples e superficial mudança de regime político, que aquele conjunto de
valores e de constantes de repente se desmancharia!
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Plebiscito de 1993
No dia 21 de abril de 1993, a opção
"república" obteve 86 por cento dos votos válidos, conferindo,
finalmente, legitimidade popular ao regime republicano brasileiro. No mesmo
plebiscito, o sistema presidencialista de governo foi legitimado pelo voto popular.
Bibliografia
§ PEIXOTO, Floriano, Floriano 1839-1939, Editora Graphicos Bloch, Rio de Janeiro, 1939.
§ FONSECA, Deodoro, Deodoro e a Verdade Histórica, Imprensa Nacional, Rio de Janeiro,
1939.
§ BARBOSA, Rui, Ditadura e República, Editora Guanabara, Rio de Janeiro, 1932.
§ CALMON, A Vida de Dom Pedro II - O Rei filósofo, Blibioteca do
Exército Editora, Rio de Janeiro, 1975.
§ CAMPOS SALES, Dr.
Manuel Ferraz de, Da Propaganda à Presidência, Edição Fac-similar,
Senado Federal, Brasília, 1998.
§ CHAVES DE MELLO,
Maria Tereza, A República Consentida, Editora FGV, EDUR,
Rio de Janeiro, 2007.
§ JANOTTI, Maria de
Lourdes Mônaco, Os Subversivos da República, Editora Brasiliense,
São Paulo, 1986.
§ OURO PRETO, Visconde
de, A Década Republicana, Editora da UNB,
Brasília, 1986.
§ OURO PRETO, Visconde
de, Advento da Ditadura Militar no Brasil, Editora Imprimiere
F. Pichon, Paris, 1891.
§ PRADO, Eduardo, Fatos da Dictadura Militar no Brazil, Editora Revista de Portugal, 1890.
Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Proclama%C3%A7%C3%A3o_da_Rep%C3%BAblica_do_Brasil